Após a Graduação


Diversas vezes disse que sempre gostei de estudar. Após o curso de graduação, não parei. Criei diversos projetos de estudos por conta própria e fiz cursos de Inglês, Italiano, Espanhol, História da Baixada Fluminense, História dos Jardins, Elaboração de Questões, participei de diversos congressos e assisti a muitas palestras. Cheguei a retornar ao curso de engenharia, prestando novo vestibular para a UERJ.

Um dos grandes problemas, que, obviamente, não é só meu, era conseguir conciliar os estudos, sobretudo aqueles que não eram desenvolvidos em projetos pessoais, com os horários de trabalho. Entretanto, estudar, para mim, é fundamental, faz parte da essência de quem sou. Sempre houve quem perguntasse "para que você está estudando isso?". Eu nunca estudei para alguma coisa. Sempre busquei fazer alguma coisa para poder estudar. Lembro-me de apenas dois anos em que eu não estivesse inscrito em nenhum curso: o ano seguinte a minha graduação e o ano de 2020, o ano da pandemia. Em fevereiro de 2020 eu defendi o doutorado, portanto, de certa forma, 2020 não conta.

Dos cursos que fiz, dois merecem destaque, por terem ligação direta com minha formação profissional: o projeto PAPMEM (Programa de Aperfeiçoamento de Professores de Matemática do Ensino Médio, desenvolvido no IMPA) e o Curso de Especialização em Currículo e Prática Educativa (desenvolvido pela PUC-RIO).

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Programa de Aperfeiçoamento de Professores de Matemática do Ensino Médio

O PAPMEM era um curso que tinha vez durante uma semana em janeiro e uma semana em julho, normalmente as últimas. Os cursos fundamentavam-se em livros que abordavam o conteúdo do Ensino Médio, mas direcionados aos professores, não eram livros didáticos, não eram livros para serem usados nas escolas. Cada versão do curso buscava trabalhar com tópicos diferentes abordados por professores nas séries do Ensino Médio. Eu estive presente em praticamente todas as versões.

Eram ministradas aulas no período da manhã e, ao final das aulas, era entregue uma lista de exercícios para serem discutidos em grupos pequenos no período da tarde. O dia fechava com uma discussão das soluções encontradas. Essas discussões eram riquíssimas porque não tratávamos apenas das soluções, mas dos erros e da comparação das soluções.

Ouvi, mais de uma vez, críticas ao curso por ele não se direcionar aos métodos possíveis de abordagem da matemática nas salas de aula. As críticas não eram infundadas, mas eram incabíveis. O curso jamais se propôs à Didática da Matemática. O curso era transmitido e acompanhado por dezenas de instituições no Brasil inteiro. Cada região com suas especificidades; cada professor atuando em colégios com realidades distintas. A proposta do curso era abordar o conteúdo trabalhado direcionando a abordagem ao professor e não ao aluno. A transposição do que o professor apendeu para a sua atuação em sala de aula era função de cada um, adaptando o que aprendeu à realidade com a qual convivia. A ideia do curso era instrumentalizar o professor com conhecimentos matemáticos úteis no planejamento e execução de sua atuação.

De forma geral, nos cursos de graduação, os conteúdos de Ensino Médio, quando chegam a ser abordado, são trabalhados deixando muito a desejar. Os cursos entendem que aqueles que estão cursando a licenciatura já conhecem todo o conteúdo do Ensino Médio. Equívoco duplo. Primeiro porque não é verdade que quem passou pelo Ensino Médio viu ou conhece tudo o que lhe foi "ensinado". Segundo, porque um professor precisa conhecer os fundamentos do que vai trabalhar com os alunos. A matemática que deve ser conhecida por um professor é distinta daquela pertinente ao bacharel ou ao engenheiro. Ser professor de matemática não é matemática mais pedagogia, uma suposta matemática que independe da prática a ela vinculada. O conhecimento do professor é específico, fundamentado em uma prática de séculos e que precisa ser tratado como tal.

Como consequência dessa deficiência dos cursos superiores, o professor aprende a ser professor buscando modelos construídos durante seu Ensino Básico e estudando livros didáticos. Entretanto, os livros didáticos não são escritos para o professor, são escritos para os alunos. Mesmo os livros do mestre, que acompanham as coleções de livros didáticos, apresentam, no mais das vezes, propostas de abordagens e de avaliações, e não os fundamentos do que será abordado.

O PAPMEM propõe-se a suprir essa lacuna na formação dos professores. Se ele consegue, ou não, cumprir o que propõe, ou se a proposta política por trás do projeto é válida ou não, é outra linha de crítica. Particularmente, aprendi muito nos cursos que fiz e acabei tornando-me um dos professores do projeto.

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Curso de Especialização em Currículo e Prática Educativa

O colégio Sion fez um convênio com a PUC-RIO para ministrar a seus professores um curso de aperfeiçoamento e eu fui convidado a participar. Ofereceram banana a macaco - prontamente me dispus a compor o quadro daqueles que fariam o curso.

Era um curso no formato de tutoria à distância. Recebíamos material impresso e orientações do que deveríamos fazer durante o bimestre. Ao final do período, os professores do Sion do Rio de Janeiro nos deslocávamos para o Sion de São Paulo e lá dormíamos o final de semana. Nesse momento tínhamos orientações, tirávamos dúvidas, recebíamos novos materiais impressos e participávamos de uma avaliação.

Apesar de o curso ser na modalidade à distância, não usávamos internet. No final da década de 1990 e início dos anos 2000, a internet não estava generalizada e com o poder que tem hoje (para aqueles que se lembram, usávamos internet discada).

O curso não envolvia matemática, tratava de questões que, em um curso de licenciatura, seriam vinculadas às disciplinas concernentes ao núcleo pedagógico. Tive aulas de Didática, Pesquisa em Educação, Psicologia, Tendências Atuais do Pensamento Pedagógico e outras tantas disciplinas do núcleo pedagógico. O material era riquíssimo, e as atividades envolviam resumo de textos, elaboração de trabalhos comparativos, relatos de experiências e análise de filmes.

Muitos dos que fizeram o curso, dentre os quais eu me incluo, olhavam o curso como uma possibilidade de se preparar para o mestrado em educação, mas esse não era o objetivo do curso. As abordagens eram, com frequência, vinculadas às práticas em sala de aula. O curso visava eminentemente à qualificação do profissional que atuava em escolas e não tinha interesse em deslocar esse profissional para o campo da pesquisa, propunha-se a ser um curso para professores.

As disciplinas que cursei nesta especialização fizeram-me retomar as cadeiras que cumpri no curso de graduação, só que com mais calma e com maior experiência.

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Os cursos que fiz no IMPA, ligados à matemática, e o que fiz na PUC, ligado à pedagogia, levaram-me a revisitar meu curso de graduação. Arrisco-me a dizer que acabei fazendo outra licenciatura em matemática.